Fechamento da Rodoviária de Parobé Levanta Perguntas Sobre Impactos Indiretos do Tarifa Zero
O encerramento das atividades da Rodoviária de Parobé acende um sinal de alerta sobre a reconfiguração silenciosa da mobilidade urbana e regional na cidade. Segundo estimativas da Prefeitura, cerca de três mil usuários mensais do transporte intermunicipal foram diretamente afetados pela decisão da administração do terminal, motivada por uma queda de 70% no faturamento.
Parobé News - Redação Especial08/07/2025 20h40
Diante desse cenário, uma pergunta começa a ecoar nos bastidores políticos e entre especialistas em mobilidade: seria possível que o programa municipal Tarifa Zero tenha contribuído, ainda que de forma indireta, para o esvaziamento da demanda da rodoviária?
🚍 Tarifa Zero: Alcance Local com Efeitos Regionais?
O Tarifa Zero foi implementado com o objetivo de oferecer transporte urbano gratuito dentro dos limites de Parobé. Com frota renovada, ar-condicionado, GPS, aplicativo para celular e catracas para controle de passageiros, o programa se consolidou como uma solução moderna e popular, com mais de mil usuários por dia.

No entanto, algumas rotas do Tarifa Zero estendem-se até áreas limítrofes de ligação com cidades vizinhas, como Taquara. Na prática, isso possibilita que usuários que anteriormente utilizavam a rodoviária para se deslocar até esse município, agora realizem grande parte do trajeto sem custo algum, optando por completar o restante com meios alternativos, como caronas, caminhadas ou motoristas por aplicativo (Uber e similares).
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🚗 Aumento dos Apps e Evasão da Rodoviária
Em paralelo ao sucesso do Tarifa Zero, cresce em Parobé o número de motoristas por aplicativo — muitos impulsionados pelo desemprego e buscando renda alternativa. Com viagens rápidas e preços acessíveis, o uso de Uber e afins se tornou mais atrativo que o transporte coletivo tradicional, sobretudo em deslocamentos entre cidades próximas.
A combinação entre:
- um sistema urbano gratuito e bem estruturado, e
- a acessibilidade crescente de transportes individuais
pode ter gerado uma nova lógica de mobilidade local e regional, enfraquecendo o papel estratégico da rodoviária.

🧭 Uma Reconfiguração Invisível?
É importante frisar que não há indícios de responsabilidade direta do programa Tarifa Zero no fechamento da rodoviária. O próprio prefeito Gilberto Gomes destacou que a gestão do terminal não é atribuição do Município e que a prefeitura propôs um novo espaço, não aceito pela administração da rodoviária.
Contudo, os efeitos colaterais indiretos de políticas públicas de mobilidade devem ser observados com atenção. O deslocamento das escolhas do usuário, guiado por fatores como custo, praticidade e frequência**, pode sim afetar serviços paralelos — mesmo que não seja esse o objetivo original do programa.
Nesse sentido, podemos considerar uma "consequência não intencional" que altera o comportamento dos usuários, um conceito frequentemente abordado por economistas críticos da intervenção estatal, como Robert Lucas Jr. Pessoas que antes trabalhavam em Taquara e região, por exemplo, podem ter gradualmente se desligado de empresas fora do município para buscar empregos em Parobé, visando a significativa economia do custo de transporte.
Essa adaptação racional do comportamento dos indivíduos à nova estrutura de incentivos promovida pelo Tarifa Zero, ao poupar o valor da passagem intermunicipal, pode ter contribuído para uma reconfiguração do mercado de trabalho local e regional, com o fluxo de trabalhadores se concentrando mais dentro da cidade de Parobé.
🔍 E Agora?
O DAER anunciou a abertura de um processo administrativo para rescisão da concessão da rodoviária e a busca de um novo ponto oficial de embarque e desembarque. Até lá, os usuários do transporte intermunicipal permanecem em um limbo operacional, sem a infraestrutura adequada.
Enquanto isso, cabe ao poder público e à sociedade civil discutir formas de integração entre os modais urbanos e intermunicipais, para evitar que avanços de um setor impliquem no colapso de outro.
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